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domingo, 11 de agosto de 2013

MINHA HISTÓRIA COM A LEITURA


            Minha vida como leitora começou muito cedo. Lembro-me que bem antes de saber ler eu já lia as figuras dos livros e ficava horas contando histórias imaginárias. Em 1967 não tinha muitos livros atrativos, mas me encantava as figuras, até rótulos de produtos me fascinavam.
            Quando comecei a ler as primeiras palavras, percebi que eram diferentes daquelas que eu lia na minha imaginação. Aprendi com a cartilha Caminho Suave a soletrar palavras soltas que na minha cabeça não tinham sentido. Fiquei decepcionada com as histórias que não eram nada criativas. Fazia as atividades automaticamente e avançava rápido nas páginas para ver se vinha outra coisa mais legal.
            Por mais estranho que pareça, não consigo lembrar-me da minha primeira professora, talvez de uma forma ou de outra as lembranças foram barradas. Independentemente das aulas eu continuava no meu mundo de figuras e rótulos.
            Depois que passei da fase: A babá lava o bebê. Ivo viu a uva. Percebi que eu podia juntar outras palavras e com o tempo me divertia com esta descoberta.
            Também percebi que eu era limitada a ler Ivo viu a uva e escrever sobre aquilo, para mim não tinha sentido. Quantas vezes era chamada para ler e muitas vezes divagava nas leitura sem ter escrito nada, quando a professora me descobria era xingada e dizia que eu não sabia escrever. Meu caderno era um festival de riscos vermelhos feitos pela professora. Escrevia somente aquilo que era para agradar e com o tempo deixei de ler em voz alta e a escrever.
            Adorava em casa brincar com o meu nome, pois percebia que com nove letras eu podia criar uma infinidade de outras palavras e montava as histórias na minha cabeça, mas nunca no papel. E foi nessa época que eu decidi que iria ser professora.
            O tempo foi passando e quando cheguei à adolescência descobri as coleções de: Sabrina, Júlia, Bianca e tantas outras. Devorava os livros, às vezes lia até dois por dia. Depois de muitos anos lendo esses livros, qual não foi minha decepção ao descobrir que todas as histórias eram iguais, só mudava os personagens. A moça pobre que se apaixonava pelo rapaz rico e poderoso que a esnobava e fazia sofrer, mas no final dizia que sempre foi apaixonado por ela.
            Em 1979 terminei o Magistério, e em 1982 assumi por concurso uma escola multisseriada. Quando me deparei com aqueles alunos, quatro turmas juntos na mesma sala, os pequenos nem sabiam pegar o lápis na mão e me disseram que eu tinha que alfabetizá-los e fiquei assustada. Foi então que conheci O Barquinho Amarelo, mas percebi que eu ia fazer o mesmo com meus alunos o que tinha acontecido comigo. Então comecei a encher a sala com cartazes e rótulos, fiz mercadinho com embalagens de produtos. Lia muitas histórias para eles. Na época tinha bandejas de areia e fazia os alunos, com o dedo, desenhar as letras, usava cartões de alinhavo também.
            Fiz muitos cursos e aprendi que era possível criar histórias com os alunos através de cartazes de experiências como eram chamados na época. Comecei a colocar em pratica, fazia bolo com os alunos, polenta e depois construíamos juntos as histórias no quadro. Quando lia uma história, logo tratava de escrever outra usando a criatividade.
            Nunca me esqueço que um dia uma aluna foi ler sua história e olhava o caderno e contou uma história linda sobre uma galinha. Quando peguei o caderno da mesma, qual não foi minha surpresa ao perceber que ela tinha feito como eu imaginou toda a história. Elogiei sua história e depois somente com ela ajudei a colocar no papel. Se eu tivesse feito o mesmo que a professora fez comigo, com certeza a aluna nunca mais iria escrever. Consegui alfabetizar aquelas crianças da minha maneira, levava muitos livros, lia muito com eles.
             O tempo foi passando e minhas leituras se tornaram mais exigentes, passei a ler livros de literatura brasileira, apesar de não gostar muito de Machado de Assis por achá-lo muito descritivo. Mas lia, porque era importante. Lia de tudo, desde Sydney Sheldon, Danielle Steel, Agatha Cristie e tantos outros.
            Por um longo período lia muito literatura norte americana, fique apaixonada por romances ligados a segunda guerra mundial.
            Depois fiz o Magister, uma faculdade de Português e Inglês ofertada pelo governo do estado de SC, que era de graça, porque eu não tinha condições de pagar uma faculdade.
            Então minhas leituras tinham que ser teóricas para poder fazer os trabalhos, aprendi a gostar de teorias, pois era através delas que eu podia ser critica.
            Comecei a dar aula para o ensino fundamental de português, e lia muito com os alunos e fazia com que eles se encantassem com os livros a pegar o gosto pela leitura. Depois fiz minha pós- graduação em Língua Portuguesa, porque queria me aprofundar mais na questão da leitura e principalmente a escrita que sempre foi uma barreira para mim.
             Na escola lia os livros da Série Vagalume porque eram estes os livros que os alunos liam ,quando foram lançados os livros da Série Crepúsculo também li,porque era febre entre os adolescentes. Lia porque queria entender seus sonhos, suas fantasias. Mas eu queria muito mais, para mim não bastava que eles lessem era preciso fazer algo para que eles valorizassem suas escritas também.
            Em 2008 resolvi dar uma guinada na minha vida, fiz um blog pessoal onde escrevia e continuo escrevendo coisas que tenho vontade. Também fiz uma proposta para os alunos de 7ª e 8ª Séries, para eles lerem sobre os problemas sociais brasileiros. Foi então que surgiu o primeiro Festival da Oratória na escola.
            Assim que iniciaram as aulas em fevereiro os alunos começaram a pesquisar os assuntos, durante dois meses leram muita coisa em jornais, revista e internet. Depois pedi que escolhessem um tema que era do seu agrado e produzissem um texto baseados nas suas leituras. As correções eram constantes, mas não os deixava desanimarem. Depois dos textos prontos foi feito uma seleção nas salas de aula e onze alunos foram selecionados para o Festival.
            Os alunos vinham em outro turno para os ensaios, ensaiava postura, dicção, expressão corporal. Desde o começo incentivei e fui atrás de prêmios em dinheiro, pois os alunos sempre viajavam no final do ano e esse dinheiro ajudaria muito. O primeiro lugar recebeu cem reais o segundo setenta e cinco reais e o terceiro cinquenta reais. O Festival foi um sucesso.
            Em 2009 fui convidada para ser colunista de um jornal da minha cidade, no qual escrevo até hoje.
            E no ano de 2009 no início das aulas os alunos já pediam quando eu ia começar a trabalhar a Oratória. Cada vez mais o interesse dos alunos foi crescendo, então comecei a sair no comércio à procura de patrocínio para as premiações. Novamente o Festival foi realizado na escola, mas consegui arrecadar setecentos reais e novamente os onze alunos finalistas foram premiados.
            Em 2010 senti que este Festival tinha que ser mostrado para toda a cidade e a escola se tornou pequena para a realização do evento. Então consegui a Casa da Cultura da minha cidade onde a acústica era melhor e o público assistiríamos com mais confortabilidade. Consegui mais patrocinadores, e neste ano distribui mil e cinquenta reais entre os onze participantes. Fazíamos convites para as escolas, convidávamos jurados que eram jornalistas, locutores de rádios, políticos da nossa cidade e pessoas ligadas a nossa cultura.
            Em 2011novamente as procuras para participarem já sabiam no início do ano que assuntos teriam que ler para fazer seus textos. Cada vez mais aumentava o número de patrocinadores e já conseguia pagar em dinheiro os prêmios dos onze participantes. A escola toda se envolvia, fazíamos os diplomas, dávamos entrevistas para as rádios, saíamos nos jornais da cidade. Sucesso total.
            Em 2012 decidi que eu iria fazer meu último Festival de Oratória na escola, pois iria me aposentar em março de 2013.
            Então sabia que tinha que fechar com chave de ouro e pedi para os alunos que lessem somente assuntos relevantes a nossa cidade como: Saúde, Educação, Trânsito, Política, Drogas, Inclusão, Bombeiros, Segurança Pública, Educação Financeira, Cultura. Só que os textos teriam que partir de entrevistas feitas, onde eram gravadas as pessoas abordadas. A parte mais difícil para eles foi transcreverem as falas e depois elaborar os textos. Novamente fui atrás dos patrocinadores e neste ano a premiação foi maior: mil e quinhentos reais distribuídos entres os participantes.
            Fui homenageada pela direção da escola e os professores, pois era minha despedida, e disse no meu discurso final que ao me aposentar queria trabalhar somente meio período e que ia deixar para outras pessoas realizarem o Festival.
             Nesses cincos anos de Oratória os alunos puderam fazer uma leitura de mundo e colocar nas suas escritas todas as criticas argumentativas, pois tiveram embasamento para isso. Ler para eles foi fundamental para desenvolver todas as praticas de seus textos.
            Aposentei-me em março de 2013, e este ano escolhi uma escola, só que fiquei na minha vaga como substituta, pois existe grande falta de professores. No começo disse que não ia me envolver mais, ledo engano o meu.
            Não vou fazer o Festival de Oratória, pois trabalho em duas escolas diferentes e é complicado montar toda uma estrutura. Mas nem por isso deixei de trabalhar Oratória nas escolas. Não realizei festival,mas orientei alunas das duas escolas para participarem do Festival de Oratória nas escolas da JCI.Quatro alunas foram escritas para o festival.É impossível não trabalhar leituras que nos levam a refletir,principalmente no momento que estamos vivendo.E o suporte para essas leituras vieram muitas vezes do Jornal Diário Catarinense e muitas pesquisas em livros e internet.
            Este ano estou trabalhando com as 8ª Séries literatura Brasileira e outros tipos de leitura, onde os alunos fazem roda para contar e discutir os livros lidos. Estou trabalhando com 6º ano e 7ª e 8ª Séries poesias inéditas baseadas nos problemas sociais. No final do ano nas duas escolas haverá um Festival de Poesias.
            O mais gratificante este ano é trabalhar Literatura Infantil com uma turma do 3º ano e uma turma de pré- escolar. Posso perceber diariamente nos alunos do pré a ansiedade quando pegam os livros e inventam suas histórias imaginativas.
            O que eu aprendi nesses anos todos foi vencer os meus medos de ler em público, de falar para um grande número de pessoas e principalmente de escrever minhas opiniões. E o mais importante ajudei muitos alunos a perderem estes mesmos medos.
            Hoje sou uma pessoa realizada profissionalmente e penso que a palavra aposentada vou deixar de lado por muito tempo. Ainda tenho muita coisa para fazer nas escolas por onde vou passar. Incomodo muita gente com meus projetos e desafios e costumo desafiar outros professores também.
            Nos livros eu viajei, não só para outros mundos, mas em meu próprio mundo. Eu aprendi quem eu era e quem eu queria ser, o que eu poderia aspirar, e o que eu poderia ousar sonhar com meu mundo e eu. Tornei-me mais audaciosa e aprendi a diferença entre o bem e o mal, o certo e o errado. A leitura sempre foi a minha casa, minha grande companheira. A leitura se apoderou de mim com um caminho e uma ponte para os meus sonhos.
            O que torna um livro verdadeiramente agradável e cativante para mim? Um mistério? Uma história de amor? A ficção científica? Um romance de espionagem? Todos eles fazem! Qualquer livro que me permite escapar do meu mundo e mergulhar-me em outro mundo, muito diferente do meu, é um livro agradável para mim! 
            Seria impossível listar todos os livros que eu li ao longo dos anos - não ter sido simplesmente demais. Mas cada um contribuiu para a minha vida de alguma forma. E escrever me deu uma saída criativa maravilhosa, bem como desenvolver as minhas habilidades. A leitura mais importante não é o que você pode programar para reforçar seus lucros ou garantir um aumento de salário, mas o que lhe dá a moral de um ser humano decente.
            Infelizmente Ivo só viu a uva. Eu chupei o grão, sequei a semente e plantei. Junto com ela foram crescendo meus sonhos, estendi meus braços para o mundo assim como a semente se tornou poderosa e cresceu. Juntas aprendemos a entender as entrelinhas de um texto. E a parreira cresceu tanto, que os espaços se tornaram pequenos. Hoje meus espaços são preenchidos com jornais diários,artigos interessantes e livros que me fazem viajar .


 OBS:Ia participar com esse relato do Prêmio RBS Educação,mas esqueci de fazer a segunda inscrição.Por isso posto aqui.