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quinta-feira, 10 de junho de 2010

O ESPETÁCULO COMEÇOU.


            De 4 em 4 anos, por um mês ficamos “mais” brasileiros, enfeitamos ambientes de verde amarelo, cantamos nosso hino e idolatramos 23 “heróis” que defenderão nossa Pátria. Ano de Copa do Mundo é ano especial para os brasileiros. Nas escolas, na televisão, nos jornais, enfim, no pensamento de todos existe um sonho: o hexacampeonato! Embora a seleção brasileira não represente hoje, com tanta veemência, a nossa superioridade no esporte que é paixão nacional, e paire a incerteza de que ainda somos mesmo o país do futebol, a expectativa é grande.
           Que segredo é esse do Futebol que faz com que 191 milhões de brasileiros, umas vítimas da seca do nordeste, outros das enchentes do sul, a maioria vítima de um sistema que deles suga toda a vontade de resistir, de repente tocado por uma varinha mágica, por um feitiço coletivo, permanecem durante noventa minutos presos à magia de 23 homens (ou deuses?) dentro de um campo?
           Será que esses são os heróis que nosso Brasil precisa? Precisamos de heróis professores, especialistas nas mais diversas profissões, pessoas que todos os dias precisam trabalhar para sustentar suas famílias, que mesmo trabalhando a vida inteira, nunca ganharão o que os jogadores ganham. Queremos políticos heróis, que lutem pelo povo e não roube dele.
           Com o início da Copa, todos os artigos com as cores da bandeira sobem em proporção astronômica, e depois das comemorações o que sobra é um monte de lixo e pior, não reciclado ou reutilizado de maneira apropriada.
            Quantas vezes nosso Hino é mutilado? “Braços fortes”, “Entre os seios”, “O lábaro que ostentas estrelados” são comuns. “Funduras o Brasil, florão da América” e por ai vai.
            Nesta época ninguém percebe o aumento dos alimentos, da gasolina, dos produtos eletrônicos, dos impostos, depois da Copa as reclamações acontecem. Então as coisas não têm mais jeito.
            O Futebol é capaz de viabilizar a união de todos em torno de um ideal comum, como por ocasião dos Campeonatos mundiais, aproximando os extremos e congraçando todas as correntes de pensamento, união esta, muitas vezes tentada e poucas vezes alcançada em outros momentos da vida nacional, capaz até de paralisar o país,
            Deveríamos ter o entusiasmo nacionalista da Copa do Mundo sempre. Saber votar e quando um político não corresponder ao nosso voto, não reelegê-lo. O processo é lento, mas é a única forma de melhorarmos nosso País.
           No entanto, escolher a África do Sul como sede teve a questão histórica que envolveu e ainda envolve a segregação racial. No país sede existe a magnética figura de Nelson Mandela, que dispensa comentários, a alegria natural do povo, que apesar dos pesares, ainda ri com espontaneidade que se alegra em poder sediar um evento de grande porte. E penso que o povo sul-africano não seja bobo, é um povo que sabe perfeitamente que esta é a chance. Chance de aproveitar esta importante vitrine e se mostrar para o mundo. Bilhões de pessoas assistirão aos jogos, logo, bilhões de pessoas verão vários lugares da África do Sul. Verão coisas ruins, sim, claro, todos os países têm seu lado ruim, contudo verão o lado bom, e para muitos investidores este lado bom será o alvo.
         Futebol arte, Futebol espetáculo, Futebol paixão popular, instrumento de alienação. Futebol instrumento de mobilização e organização das classes populares. Futebol e consumismo. Futebol de jogadores milionários. Tudo lindo e maravilhoso e depois?
         É ano de eleições, que ao contrário da Copa do Mundo, não vai ter consequências de 1 mês e depois todo mundo esqueceu quem ganhou ou até em que país aconteceu a Copa. Vai ter consequências durante 4 anos da nossa vida.